Vertigem, nenhum outro substantivo poderia traduzir melhor o que se sente ao apreciar as esculturas dos gêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo. Na descrição literal, vertigem é sentir como se o mundo girasse ao seu redor, ou que você gira. A única pintura na exposição que esta no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) toma toda uma parede em quadrados vermelhos e azuis que dançam aos olhos do visitante e o estontea em suas figuras amarelas que parecem ser engolidas pela pintura, aliás, não só os homenzinhos poéticos do desenho são sugados, mas nós mesmos.
Essa brincadeira séria que guia o visitante para dentro das obras é grandiosa e humilde ao mesmo tempo. Um barco de cores vivas – tal como todas as outras esculturas – nos instiga a descobri onde esta oculta a câmera que proporciona visão periférica do salão. Câmera essa que é a sensação da criançada. Da mesma forma as duas aparentemente simples caixas amarelas causam fervor quando se descobre dentro um caleidoscópio gigante. Centenas de espelhos que multiplicam seu rosto e gesto em profundidade e luminosidade.
A rusticidade de algumas esculturas feitas em madeira e finalizadas em sua cor original, de um marrom puro de sua matéria prima, é enfeitada por objetos simples, como pequenas bolinhas de gude, tapetes felpudos onde se pode caminhar ou se deitar, latões, pregos e tantos outros que separados não representariam absolutamente nada, porém agrupadas numa balança perfeita de criatividade poética tornam vivos um rosto gigante, mãos e uma espécie de barco com rodas e teclas de piano onde é possível não apenas ver, mas sentir e ouvir sua arte.
A forma com que todos os sentidos e a imaginação são trabalhados ao se apreciar essas obras se intensifica a cada nova descoberta. No centro do salão esta uma escultura com forma de pássaro, pernas em formas humanas e na face um vídeo com olhos e boca que se expressão aleatoriamente e hipnotizam. Ao se dar conta o visitante já esta com a expressão facial espantada, desconfiada, acredito que às vezes meio enojada e até mesmo tentando imitar os movimentos visualizados.
O ápice dessa viagem certamente esta no ambiente que parece a casa de alguém solitário, tão rica em detalhes quanto em poder de aguçar os sentidos e sentimentos. Uma geladeira, uma cama, espelhos, bilhetes nas paredes, uma luz de neón que dança no ambiente ao som de uma música lenta que se repete. Esta e todas as outras obras dessa exposição são indiscutivelmente uma experiência quando se permite senti-las.
Com entrada franca e garantia de uma viagem ao que se tem de melhor na evolução brasileira da arte grafiteira, a exposição dos Gêmeos paulistas, intitulada Vertigem estará em Brasília, no Pavilhão de Vidro do CCBB, até o dia 16 de maio.
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